segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Exú, o grande paradoxo na caridade umbandística


Poder-se-ia aprofundar esta questão, polêmica por si. Como por exemplo refletindo as múltiplas facetas de Exú e a diversidade de interpretações existentes nos cultos.

Desde os idos da antiga África que Exú deixa estupefatos os circunstantes.

Para alguns umbandistas, mais ligados a dualidade católico-espirítica é um grande incômodo e não é permitido as suas manifestações.

Para outros liberados de constrições culposas, Exú ainda é vestido pelo inconsciente do imaginário popular com capa vermelha, tridente, pé de bode, sorridente entre labaredas.

Há os que “despacham” Exú para não incomodar o culto aos “orixás”.

Exú, sendo considerado entidade, não deve entrar, dizem os ortodoxos que preconizam a pureza das nações. Ali não tem lugar para egum...espírito de morto...

Existem os mais entendidos nos fundamentos da natureza oculta que compreendem Exú como o movimento dinâmico de comunicação entre os planos de vida. Entendem que o axé – asé – impulsiona a prática litúrgica que, por sua vez, o realimenta, pondo todo o sistema em movimento. Exú, vibração indiferenciada, não manifestada na forma transitória de um corpo astral ou outro veículo do plano concreto, é o que põe em movimento a força do axé – asé – por meio da qual se estabelece a relação de intercâmbio da dimensão física – concreta – com a rarefeita, a dimensão espiritual.

Em conformidade com esta conceituação, passa Exú a ser indispensável e o elemento de ligação mais importante em toda liturgia e prática mágica umbandística.

Sendo Exú o transportador, o que leva e traz, fecha e abre, para os africanistas ligados as tradições antigas, como concebê-lo sem o sacrifício animal para realimentação da força vital – o asé -, diante do preceito- tabu – que o sangue é o perfeito e indispensável condensador energético com esta finalidade?

Quando referimos africanista, não quer dizer negro. Para ser africanista, no sentido de se preconizar a retomada dos antigos ritos tribais, pode se ter qualquer cor de pele. Existem muito negros que tem verdadeira ojeriza a qualquer sacrifício assim como há muitos brancos a postos com a faca afiada.

Neste artigo não se preconiza contra as oferendas ritualísticas.

Pedimos tão somente a reflexão.

Reduzir toda a movimentação das forças cósmicas e seu ciclo retro-vitalizador ao derramamento de sangue pelo corte sacrificial é uma visão estreita, fetichista, da DIVINDADE. É uma posição reducionista, que demonstra dependência psicológica. Na atualidade se verifica que esta “práxis” extrapolou os limites de fé dos antigos clãs tribais e está inserida na variedade racial da sociedade que a compõe e ao mesmo tempo a confronta, já que objetiva a manutenção financeira de cultos religiosos e o prestígio de seus chefes, dado que o sangue equivocadamente está ligado a força, poder, resolução de problemas e abertura dos caminhos. Saber manipulá-lo, ter cabeça feita, ser iniciado no santo simboliza este poder. Este apelo mágico divino atrai mais que retrai, pelo natural imediatismo das pessoas em resolver seus problemas.

Afirmamos que é plenamente possível se movimentar todo o axé – asé -, harmonicamente integrado com a natureza de amor cósmico e crística da Umbanda, equilibrado com a sua essência que é fazer a caridade desinteressada, e GRATUÍTA, sem ceifar vidas e derramar sangue.

O próprio aparelho mediúnico é o maior e mais importante vitalizador do ciclo cósmico de movimentação do axé – asé. Ele é o “fornecedor”, a cada batida do seu coração, o sangue circula em todo seu corpo denso, repercutindo energeticamente nos corpos mais sutis e volatilizando no plano etéreo. Desta forma, os espíritos mentores, que não produzem estas energias mais densas e telúricas, se valem de seus médiuns que fornecem a vitalidade necessária aos trabalhos caritativos aos necessitados. Há os espíritos que vampirizam estes fluídos. São dignos de amor, de amparo e socorro, o que fazem as falanges de Umbanda.

Fonte: http://www.caboclopery.com.br/refletindo_a_umbanda.htm